domingo, 28 de junho de 2009

Notas dos grupos de sexta

Grupo Corpo - 8,5
Grupo Identidade - 8,5
Grupo Poder - 9,0
Grupo Globalização - 8,0
Grupo Ciência e Tecnologia - 8,0

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ainda Di Franco

Pessoas.
Depois de constatar que os jornais que publicaram o texto homofóbico de Di Franco não publicaram o meu texto, resolvi escrever um texto (agora sem meias palavras) para o Observatório da Imprensa, que publicou com destaque no site. Vejam em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=543IMQ001
Se nós não reagirmos, a Opus Dei reage.
Um abraço, Leandro

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Dois textos do New York Times que a Folha publicou hoje

Choque de identidades

Os eleitores no Líbano e no Irã foram às urnas nas últimas semanas para escolher entre candidatos com propostas muito diferentes, mas, o que é ainda mais fundamental, maneiras diferentes de definir a identidade nacional. "Identidade" é uma coleção de ideias e características que definem como vemos a nós mesmos como indivíduos e como parte de um grupo. Criar uma identidade nacional unificada, especialmente em Estados de grande diversidade, é um passo em direção à união, à estabilidade e -para os líderes- ao controle. No Líbano e no Irã, esse desafio continua sendo o subtexto de quase toda tensão e é o combustível que queimou com intensidade durante as disputas parlamentares no Líbano e presidencial no Irã. "Nunca houve um momento em nossa história em que concordamos sobre a identidade do país", disse Ibrahim Moussawi, porta-voz do Hizbollah em Beirute, antes da eleição de 7 de junho. Mas, quando a aliança do Hizbollah perdeu, o grupo ofereceu palavras conciliadoras e aceitou trabalhar com a maioria. Isso foi possível porque as pessoas consideraram a votação legítima e entenderam que essa disputa não representava uma ameaça à sua existência. O perdedor ainda teria uma influência na condução do Estado e na definição da identidade. Isso contrasta com o Irã, onde a política se tornou uma disputa na qual o vencedor leva tudo. Após o pleito, as ruas explodiram de raiva não apenas por acreditar que os resultados foram fraudulentos, mas por causa de um desacordo fundamental sobre a identidade da nação e sua população, segundo especialistas. "O Irã de [Mahmoud] Ahmadinejad é uma república islâmica, antiocidental", disse Amr Hamzawi, associado ao Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute. "[Os reformistas] têm uma visão mais voltada para reformas da sociedade, na qual a religião não deveria mais emoldurar a vida cotidiana dos iranianos em todos os aspectos." Na política do Oriente Médio, a identidade é muitas vezes definida por quem é o inimigo. Nas corridas presidencial do Irã e parlamentares do Líbano houve basicamente dois lados, um pró-Ocidente e outro contra. Os aliados do Ocidente tendem a ver espaço para mais liberdades individuais. Os adversários têm uma visão religiosa mais fundamentalista e veem os indivíduos como mais submissos. "É preciso cimentar a identidade do país, identificar seus defensores e seus inimigos", disse Moussawi. No Irã, isso significa permitir que rapazes e garotas se sentem juntos nas lanchonetes, ou não. Significa permitir que as mulheres fumem cigarros, ou não. Significa fazer parte dos mercados financeiros globais, ou não. "Foi uma batalha sobre a identidade de dois países, e também de toda a região, entre ideias liberais e conservadoras", disse Hamzawi sobre a eleição presidencial iraniana. Em todo o Oriente Médio, identidades concorrentes criam tensões -do Egito, que luta entre o islamismo, o nacionalismo e vestígios de pan-arabismo, à Arábia Saudita, onde se chocam a modernidade e uma corrente profundamente conservadora do islamismo. No Líbano, o Hizbollah pretendia reforçar sua "cultura da resistência" na identidade nacional. "Há princípios que não podemos negociar", disse Moussawi. Embora o Hizbollah represente o maior e mais poderoso eleitorado, ele compreende que a estabilidade e a prosperidade exigem coalizões e compromissos. O governo final, sob o sistema bizantino do Líbano, terá inevitavelmente representantes da maioria e da minoria. Mas no Irã não haverá espaço para reformistas no governo e, talvez mais importante, menos espaço para ideias de reforma na vida dos indivíduos. "No Irã a política sempre foi um jogo de ganhar ou perder -você entra e eu tenho de sair, não podemos formar coalizões", disse um cientista político iraniano que pediu anonimato. A Revolução Islâmica, em 1979, uniu religiosos e seculares em oposição ao xá e recorreu ao islamismo político para forjar uma forte identidade em conflito com um novo inimigo: os EUA. Com o tempo, porém, conforme o Estado amadureceu -e com o fim da Guerra com o Iraque (1980-88)-, começou a surgir uma identidade concorrente, mais pragmática e alinhada à crescente população de jovens. A tensão entre essas identidades conflitantes aumentou desde então. Hoje, as pessoas estão nas ruas no que talvez seja mais uma disputa total pelo futuro do Estado. Mas isso não quer dizer que os dois lados atingiram um ponto sem retorno. "Embora possa ser difícil conciliar as duas orientações ideológicas, não devemos esquecer que todos estão no mesmo barco e vêm do mesmo sistema", disse Trita Parsi, escritor e fundador do Conselho Nacional Iraniano-Americano. "O colapso total do sistema seria uma derrota para ambos. Se este será forte o suficiente para permitir que eles encontrem um terreno comum, é outra questão."

A ascensão do jornalismo "faça você mesmo"

Dizem que a história é escrita pelos vencedores. Mas o que acontece quando os perdedores contam com um sistema próprio de publicação? Contrariar o poder está bem mais fácil com o uso das novas mídias, e isso tem abalado os alicerces da mídia tradicional. Depois de o presidente Mahmoud Ahmadinejad ter ironizado os que protestavam contra os resultados das eleições no Irã, comparando-os a torcedores de futebol descontentes com "poeira", um manifestante respondeu com a seguinte mensagem no Twitter: "Ahmadinejad nós chamou de poeira; nós lhe mostramos uma tempestade de areia". Enquanto repórteres da grande imprensa eram forçados a deixar o país, a história foi sendo deixada a cargo de iranianos com coragem suficiente para fazer vídeos e fotos com seus celulares, postar notícias no Twitter e escrever blogs sobre os protestos. Com o Estado no controle da TV e dos jornais, os iranianos recorreram ao Facebook e às mensagens de texto para se informar sobre os protestos. Quando essas vias também foram fechadas, o Twitter foi o que lhes restou. Mas essas mídias não tradicionais têm seu lado negativo, que inclui a dificuldade de verificação dos dados e as ameaças à segurança pessoal de quem as faz. São grandes os riscos corridos por jornalistas independentes e cidadãos desprovidos do apoio de uma organização influente, e duas americanas do canal Current TV aprenderam isso da maneira mais dura ao serem detidas na fronteira da Coreia do Norte e, no início de junho, sentenciadas a 12 anos de trabalhos forçados. "Em qualquer organização noticiosa principiante, há uma visão de que é preciso ser mais ousado do que outros veículos, para conseguir chamar atenção ao que você divulga", disse ao "New York Times" o jornalista freelancer Kevin Sites. "Isso traz um risco real." Robert Mahoney, vice-diretor do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, disse que as grandes organizações noticiosas "têm recursos com os quais podem contar para ajudar" jornalistas. "Seu acesso a rádio, TV e internet é algo que não pode ser subestimado." Quando o repórter Alan Johnston, da BBC, foi seqüestrado em Gaza, em 2007, a emissora organizou manifestações e petições e convenceu outras redes a cobrir o tema, para fazer pressão por sua soltura. Ele foi libertado depois de quatro meses em cativeiro. A mídia não tradicional assume outros tipos de riscos para atrair atenção. Como escreveu Damon Darlin no "New York Times", quando os blogs "TechCrunch" e "Gawker" postaram rumores de que a Apple estaria interessada em comprar o Twitter, atraíram muitos leitores e centenas de comentários. O rumor não demorou a ser exposto como falso. "Nunca quero perder o caráter inovador e experimental dos blogs", disse Michael Arrington, fundador do "TechCrunch" e autor do post no Twitter. Os blogs não podem competir com os recursos de que dispõem os veículos de imprensa, de modo que é grande a tentação de arriscar-se divulgando informações interessantes, porém não confirmadas. "A precisão custa caro", disse Arrington. "[Mas] ser o primeiro a divulgar a notícia custa pouco."

domingo, 21 de junho de 2009

Aviso importante

Pessoas.

Atendendo a pedidos de vários alunos da turma de sexta-feira, adiei a data de nossa prova, marcada inicialmente para dia 26 de julho. Nesse dia, no entanto, teremos aula, para encerrar a discussão sobre tecnologia e inovação, para solucionar dúvidas dos conteúdos anteriores (mediante perguntas dos alunos) e para avaliarmos as apresentações dos grupos nos seminários. Também nesse dia devem ser entregues os trabalhos escritos. Só vou receber até esse dia.

Assim, a prova fica da turma de sexta fica marcada para dia 3 de julho, e a entrega das provas e trabalhos e a avaliação final do componente vai ocorrer dia 10 de julho.

A prova da turma de segunda-feira fica mantida para dia 29 de julho.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Notas dos grupos de segunda-feira

Grupo Corpo - 7,5
Grupo Identidade - 9,0
Grupo Poder - 8,0
Grupo Globalização - 6,0
Grupo Ciência e Tecnologia - 7,5

Obviamente, essas notas serão creditadas apenas para quem esteve na aula no dia da apresentação do seu grupo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eis as questões para a nossa prova

1. Dos textos lidos e discutidos em sala durante o semestre, qual deles segue mais o paradigma da complexidade e a proposta transdisciplinar defendida por Edgard Morin? Justifique sua resposta com pelo menos 3 argumentos.

2. Que ligações podemos fazer a partir das discussões sobre a teatralização da vida cotidiana (Maffesoli) e identidade cultural (Hall)? Crie pelo menos três elos entre os dois autores e suas discussões conceituais e teóricas.

3. Como podemos pensar as relações entre o corpo e a identidade de gênero? Que relações podemos fazer entre essas duas grandes questões?

4. Depois de nossas discussões sobre identidade, afinal, qual é a sua identidade cultural? Como a sua identidade passou a ser pensada/problematizada ou até parcialmente modificada?

5. Ao analisar a realidade de Salvador ou da Bahia, que sinais de uma “outra globalização” podem ser encontrados? Em nossa realidade, onde podemos encontrar as reflexões de Milton Santos sobre a emergência dessa “outra globalização”? Ou apenas vemos os sinais da “globalização perversa” em nossa cidade e Estado?

6. Para pensar o papel da tecnologia na sociedade contemporânea, crie ligações entre as reflexões realizadas sobre o corpo (Edvaldo Couto) e sobre a exclusão digital (de Sérgio Amadeu da Silveira).

7. Em vários momentos e textos, discutimos sobre o papel e os efeitos dos meios de comunicação em nossa sociedade. O que podemos dizer sobre o assunto depois de discutir os textos de Edvaldo Couto, Cristophe Dejours, Milton Santos e Sérgio Amadeu da Silveira? O que cada um deles diz sobre os meios de comunicação? Os autores tendem a pensar da mesma forma ou divergem entre si?

8. Cristophe Dejours, a partir das reflexões de Hannah Arendt, trata sobre como a banalização do mal opera nos dias atuais. Qual é o argumento central de Dejours? Em seu cotidiano, você percebe essa banalização do mal da forma como ele a explica? Como? Onde?

9. Nas reflexões sobre poder, direitos e cidadania tratamos sobre o totalitarismo. Milton Santos defende que estamos em plena época do globalitarismo. O que ele quer dizer com isso? Qual o paralelo que podemos fazer entre essas duas discussões sobre o totalitarismo?

10. Explique o que é a exclusão digital e como ela pode ser combatida, segundo o texto de Sérgio Amadeu da Silveira.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Milton Santos e mais uma questão para prova

Car@s alun@s.
Conforme combinei com o pessoal da sexta-feira, fiquei de postar alguns apontamentos de Milton Santos sobre assuntos que não conseguimos discutir em sala de aula. Retirei esses tópicos da parte final do livro Por uma outra globalização. No final, segue mais uma questão de nossa prova, válida para as duas turmas.

Da globalização perversa para uma outra globalização

A dinâmica da globalização é esquizofrênica em relação aos territórios onde atua. Isso porque os lugares atraem a globalização mas também produzem contra-ordens porque existe a produção acelerada de pobres e excluídos que não se subordinam aos ditames da globalização.

Sinais que indicam os limites da globalização perversa:

- existe um crescente desencanto com a técnica e existe também uma crescente criação de novas técnicas não-hegemônicas;

- o agravamento das carências e exclusões permite a grandes parcelas da população reconhecer a realidade. As pessoas do mercado “informal” vivem em conformidade, mas sem conformismo;

- a formação das grandes cidades cria a ambiência da vizinhança que pode e cria novas sociabilidades mais solidárias;

- os de “baixo” cada vez mais tendem a revisar o significado de velocidade e também percebem que o mundo “em tempo real” tende a uma homogeneização da vida;

- as técnicas e a velocidade criam desigualdades e insatisfação para muitas pessoas, o que cria nelas a consciência da escassez;

- o mercado e a publicidade criam desejos insatisfeitos e também criam, com isso, reclamações dos excluídos (essas coisas só podem ocorrem com os pobres, mas não com os miseráveis, que já se confessam derrotados);

- essa política dos “de baixo” poderá ter como aliada a classe média empobrecida. Mas essa classe média só vai se dar conta disso mais tarde, pois a sua primeira reação é a de defender situação individuais;

- nessa evolução, papel central deverá ser desempenhado pela cultura popular, que vai rivalizar a com cultura de massas. Isso já pode ser visto quando a cultura popular se difunde com instrumentos que, na sua origem, eram da cultura de massa;

- a cultura da vizinhança valoriza a experiência da escassez e a experiência da convivência e da solidariedade.

O que precisa para potencializar uma outra globalização:

- para que outra globalização ocorra de fato, é preciso que a centralidade seja ocupada pelo homem e não pelo dinheiro. Assim, o interesse social suplantará o interesse econômico;

- é preciso abolir a competitividade como padrão essencial de relacionamento;

- o desafio é o de criar uma rede de forças entre os países subdesenvolvidos, uma relação entre os países sul-sul;

- desconstruir a e idéia de que a globalização tal como está é um processo irreversível;

- retomar a idéia de utopia e de projeto;

- usar as próprias técnicas, mas com outros fins. O computador, por exemplo, pode ser usado nesse sentido;

- melhorar a informação disponível e os efeitos da vizinhança;

- ultrapassar a busca pelo consumo e entregar-se na busca da cidadania;

- sair da descoberta individual dos problemas para a obtenção de uma visão sistêmica, para sairmos de uma discussão silenciosa para um debate público, com mais público.

Pergunta: Ao analisar a realidade de Salvador ou da Bahia, que sinais de uma outra globalização podem ser encontrados? Em nossa realidade, onde podemos encontrar as reflexões de Milton Santos acima apontadas? Ou apenas vemos os sinais da globalização perversa em nossa cidade e Estado?

domingo, 7 de junho de 2009

A propósito...

O desrespeito à diferença

JORGE WERTHEIN e MIRIAM ABRAMOVAY

Recente pesquisa revela que os homossexuais são o grupo que sofre mais discriminação nas escolas de Brasília

AS CIÊNCIAS biológicas, humanas e sociais avançam, e seus estudos fornecem, cada vez mais, elementos para derrubar mitos, tabus e preconceitos. Mesmo quando não apresentam resultados conclusivos, elas apontam para concepções e percepções mais razoáveis que as do senso comum, muitas vezes carregado de equívocos.

No caso da homossexualidade, a biologia e a psicologia indicam, há muito, que não se trata de doença física, tampouco mental, como se tentou demonstrar durante anos. A sociologia e a antropologia, por sua vez, já demonstraram que as identidades sexuais são construções humanas, e sua aceitação e rejeição variam conforme tempo e espaço, ou seja, são relativas.

Curiosamente, essas ideias parecem não ter ainda penetrado suficientemente no seio da maioria das sociedades. O desvio de um padrão de comportamento sexual continua provocando estigma e discriminação.

Mais uma pesquisa demonstra que as ciências têm passos mais céleres do que a sociedade em geral.Lançado há poucos dias em Brasília, sob os auspícios da Secretaria da Educação do Distrito Federal e da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), o estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas" apresenta dados e depoimentos que explicitam, uma vez mais, a homofobia no ambiente escolar.

As autoras da pesquisa não têm dúvidas -até porque já realizaram estudos semelhantes em outros Estados- de que o problema afeta escolas de todo o país. Trata-se, portanto, de um fenômeno nacional e, certamente, internacional, como o comprovam outros tantos estudos, depoimentos e denúncias mundo afora.

Para ter uma ideia, a recente pesquisa revela que os homossexuais são o grupo que sofre mais discriminação nas escolas de Brasília: 63,1% dos entrevistados (em uma amostra de 10 mil estudantes e de 1.500 professores) alegam já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito.

Mais da metade dos professores também afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas.O dado torna-se mais chocante quando 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmam que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula. É muito. E é grave.

Cumpre reconhecer que o Brasil tem discutido a questão da homofobia. A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República lançou, no último dia 14 de maio, o "Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais", que contém 50 diretrizes e ações necessárias para garantir a igualdade de direitos e o pleno exercício da cidadania a esse segmento da sociedade brasileira. No entanto, a escola avança de forma muito mais lenta, como se observa na recente pesquisa. Apelidos grotescos, maus-tratos, ofensas e ameaças são constantes, implicando sofrimentos maiores.A pesquisa mostra também que, quando o tema é ser ou parecer homossexual, a violência é banalizada, naturalizada, não é vista como um grave problema, mas como brincadeira. Não há a percepção do desrespeito.

As consequências da discriminação e do preconceito podem ser decisivas no desempenho escolar e para a autoestima dos estudantes. Sabe-se que eles perdem o interesse pela escola, como foi verificado na pesquisa, ou são transferidos constantemente de sala, de colégio, e a reprovação e o abandono escolar acabam sendo uma constante.

A homofobia nas escolas, aliás, merece atenção especial no contexto de uma questão mais ampla, que a abrange: a das violências no ambiente escolar. Esse problema não tem recebido, ainda, a atenção devida por parte das autoridades responsáveis pela implementação de políticas públicas (a preocupação recente do governo do DF é uma das poucas exceções), e os educadores em geral mostram-se espantados e assustados.

Urge que pais, professores, estudantes e funcionários das instituições de ensino organizem-se para construir ferramentas e estratégias pedagógicas de enfrentamento da homofobia no ambiente escolar, bem como das demais formas de estigma, preconceito e discriminação. Afinal, não há como negar o problema.É preciso que a sociedade avance e torne seu comportamento adequado ao que há de mais atual nas ciências biológicas, humanas e sociais.

JORGE WERTHEIN, sociólogo, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil.

MIRIAM ABRAMOVAY, socióloga, mestre em sociologia da educação pela PUC-SP, pesquisa violência nas escolas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Meu texto

De quem é a intolerância?

Leandro Colling - jornalista, professor adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor (IHAC) Milton Santos, da UFBA, onde coordena o grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS)

O artigo publicado em vários jornais, a exemplo dos jornais A Tarde, Globo e Estado de S.Paulo, no último dia 1º de junho, com o título Totalitarismo e intolerância, do jornalista e professor Carlos Alberto Di Franco, é recheado de contradições e fruto de um pensamento conservador, disciplinador (no pior sentido), totalitário e intolerante. O autor, para tentar persuadir o leitor, tenta ligar duas questões distintas para reforçar o preconceito contra a comunidade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros) e, de uma forma mais geral, contra a discussão da sexualidade nas escolas. O texto poderia ser desconstruído de várias maneiras, mas, em função do espaço, vou eleger apenas algumas.

Di Franco tenta sustentar o argumento de que estamos vivendo “uma onda de intolerância” porque “discriminados assumem a bandeira da discriminação”. Isso porque o governo federal deseja que a temática LGBTT seja incluída nos livros didáticos e que os professores sejam capacitados para combater a homofobia nas escolas. O que é um avanço no combate à intolerância, capaz até de diminuir um alto índice de suicídios entre os jovens, motivados pela homofobia no ambiente escolar, Di Franco chama de “espasmo de totalitarismo”, pois o governo estaria fazendo um “proselitismo de uma opção de vida” e que a escola, via materiais didáticos, não deveria “formatar a cabeça dos brasileiros”.

Ora, em primeiro lugar, quem deseja formatar (ou manter formatada) a cabeça das pessoas é Di Franco. Pregar o respeito à diversidade sexual não é um “proselitismo de opção de vida”, mas a defesa do respeito à diferença. E ser LGBTT não é uma opção, pelo menos não no sentido de que é plenamente possível o indivíduo optar por determinada orientação sexual ao seu bel prazer.

Todos nós, inclusive os heterossexuais, possuímos uma orientação sexual (que pode ser também uma que transite entre as várias possíveis), adquirida ao longo dos nossos processos de formação de nossas identidades, o que é realizado, em boa medida, de forma inconsciente.

A sociedade impõe, exige, apenas uma orientação, ou seja, quer que todos sigam a heterossexualidade, por isso ela mesma também não é uma opção, pois é compulsória. No entanto, centenas de pessoas acabam por não se adequar nessa heteronormatividade e sofrem sérias conseqüências. E é por causa delas que o governo, muito tardiamente, começa a criar políticas públicas para combater o preconceito.

Di Franco diz que o governo deve combater os “abusos da homofobia”, mas “não pode impor um modelo de família que não bate com as raízes culturais do Brasil e sequer está em sintonia com o sentir da imensa maioria da população”. Eu gostaria de saber o que ele entende por abusos de homofobia. Pode discriminar, desde que não mate? Esse seria o único abuso a ser combatido? O modelo de família que temos no Brasil e no mundo também é uma imposição, construída por um regime de poder que Di Franco representa muito bem. Regime esse que não consegue conviver com o diferente.

Ironicamente, esse regime se revela também como uma construção cultural exatamente nesses momentos, pois o texto de Di Franco mostra como a heternormatividade precisa ser diariamente reforçada para continuar sendo a norma preponderante, que tenta, a qualquer custo, aniquilar o diferente através da coerção e da manutenção da hierarquia de uma norma sobre os outros.

Por fim, ainda é preciso tratar sobre o outro exemplo do texto de Di Franco, a polêmica questão do livro, adotado pelo governo de São Paulo, que conteria palavrões. Não conheço o livro, que realmente pode ser inadequado para a faixa etária proposta. No entanto, até quando a escola continuará sem discutir profundamente a sexualidade? Por mais que o poder conservador e disciplinador tente o contrário, a sexualidade é tema recorrente nas conversas dos alunos e alunas. Se o professor não fala, os estudantes falam, e muito, e inclusive praticam, cada vez mais cedo e com mais intensidade. Tudo isso sem a devida orientação, tanto para heterossexuais ou não. E assim vemos aumentar o índice de doenças sexualmente transmissíveis entre os adolescentes. Ou Di Franco seria um defensor do sexo somente depois do casamento e apenas com fins procriativos? Não duvidaria nem um pouco dessas possibilidades, dadas as suas filiações ideológicas e religiosas conhecidas (ser membro da Opus Dei, por exemplo), novamente evidenciadas em um dos seus textos.


Totalitarismo e intolerância
Carlos Alberto Di Franco
Dois episódios recentes, em Brasília e São Paulo, desnudam a visão totalitária e a intolerância ideológica que dominam estratégias de longo alcance na formação das novas gerações.Comecemos por Brasília. O governo quer que sejam incluídos nos livros didáticos a temática de famílias compostas por lésbicas, gays, travestis e transexuais.Ainda na área da educação, recomenda cursos de capacitação para evitar a homofobia nas escolas e pesquisas sobre comportamento de professores e alunos em relação ao tema. Essas são algumas das medidas que integram o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), documento firmado por representantes de 18 ministérios do governo Lula. “É um marco na busca da garantia dos direitos e cidadania”, afirmou o secretários de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, durante o lançamento do plano.Vamos, caro leitor, a São Paulo. A Secretaria Estadual da Educação distribuiu em escolas um livro com conteúdo sexual e palavrões, para ser usado como material de apoio por alunos da terceira série do ensino fundamental (faixa etária de 9 anos). O livro (“Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”) é recheado com expressões como “chupa a rola” e “chupava ela todinha”. São 11 histórias em quadrinhos, feitas por diferentes artistas, que abordam temas relacionados a futebol – algumas usam também a conotação sexual.O governo de São Paulo afirmou que houve “falha” na escolha, pois o material é “inadequado para alunos desta idade”. Ótimo. Reconhecer o erro é importante.Mas, aparentemente, o governo entende que o conteúdo seria adequado para alunos de outra faixa etária.Lamentável! É assim que se pretende melhorar a qualidade de ensino? São Paulo que foi capaz de produzir uma USP assiste hoje à demissão do dever de educar. A pedagogia do palavrão e a metodologia da obscenidade estão ocupando o lugar da educação de qualidade.Espero, sinceramente, que o episódio seja pontual e que o governador José Serra, homem de sólida formação acadêmica, e seu secretário da Educação, o ex-ministro Paulo Renato, tomem providências definitivas.Na verdade, amigo leitor, uma onda de intolerância avança sobre a sociedade.Discriminados assumem a bandeira da discriminação. O tema da sexualidade passou a gerar novos dogmas e novos tabus.E os governos, num espasmo de totalitarismo, queremimpor à sociedadeum modo único de pensar, de ver e de sentir.Uma coisa é o combate à discriminação, urgente e necessário. Outra, totalmente diferente, é o proselitismo de uma opção de vida. Não cabe ao governo, com manuais, cartilhas e material didático, formatar a cabeça dos brasileiros.Tal estratégia tem nome: totalitarismo.O governo deve impedir os abusos da homofobia, mas não pode impor um modelo de família que não bate com as raízes culturais do Brasil e sequer está em sintonia com o sentir da imensa maioria da população.Se tivessem aprovado o Conselho Federal de Jornalismo, uma frustrada tentativa de garrotear a liberdade de imprensa e de expressão, eu, certamente, não publicaria este artigo. Não conseguiram.Felizmente. Escrevo com absoluta liberdade. E outros, que de mim discordem, podem defender seus pontos de vista com a mesma liberdade.A intolerância atual é uma nova “ideologia”, ou seja, uma cosmovisão – um conjunto global de ideias fechado em si mesmo –, que pretende ser a “única verdade”, racional, a única digna de ser levada em consideração na cultura, na política, na legislação, na educação, etc. Tal como as políticas nascidas das ideologias totalitárias, a atual intolerância execra – sem dar audiência ao adversário nem manter respeito por ele – os pensamentos que divergem dos seus “dogmas”, e não hesita em mobilizar a “inquisição” de certos setores, para achincalhar – sem o menor respeito pelo diálogo – as ideias ou posições que se opõem ao seu dogmatismo.Aborrece-me a intolerância dos “tolerantes”.Incomoda-me o dogmatismo das falanges autoritárias. Respeito a divergência e convivo com o contraditório.Sem problema. Mas não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, o “lugar” onde podem ser cultivados os valores, as virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para a cidadania.