terça-feira, 31 de maio de 2011

Dicas e lembranças

Para complementar algumas das discussões que realizamos ontem, sugiro esse texto da professora Miriam. leiam em http://www.antropologia.ufsc.br/75.%20grossi.pdf


Lembrem de assistir todo o documentário Arquitetura da Destruição.

Basta ir em http://www.youtube.com/watch?v=DCB7wmYvZQw
e seguir vendo. Passei apenas as duas primeiras partes em sala.


Lembro que na próxima aula, continuaremos as discussões sobre cultura - Discussão do texto Coelho, Teixeira. A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001. São Paulo: Iluminuras/Itaú Cultural, 2008, p.49 a 68. (livro enviado para mail da turma) O livro esse texto está em http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/001054.pdf


É visível que poucos alunos e alunas andam lendo os textos antes das aulas (e por algumas memórias, não estão lendo sequer depois das aulas). Esses alunos/as com certeza terão muita dificuldade de responder as questões da nossa prova. O aviso já foi dado várias vezes.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Folha de S Paulo, dia 17 de maio de 2011

TENDÊNCIAS/DEBATES
Desnaturalização da heterossexualidade 

LEANDRO COLLING



Para executar estratégias políticas que denunciem o quanto a heterossexualidade é compulsória, não podemos apostar só em marcos legais

O Dia de Combate à Homofobia, 17 de maio, é uma boa data para repensarmos as estratégias que utilizamos para desconstruir os argumentos dos homofóbicos.
As políticas de afirmação identitária, utilizadas para atacar as opressões contra LGBTTTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), negros e mulheres, para citar apenas alguns grupos, surtiram efeito e por causa delas podemos comemorar algumas conquistas. Mas, ao mesmo tempo, essas políticas são limitadas em alguns aspectos.
Além de afirmar as identidades dos segmentos que representamos, também precisamos problematizar as demais identidades. Por exemplo: LGBTTTs podem, se assim desejarem, problematizar a identidade dos heterossexuais, demonstrando o quanto ela também é uma construção, ou melhor, uma imposição sobre todos.
Assim, em vez de pensarmos que as nossas identidades são naturais, no sentido de que nascemos com elas, iremos verificar que nenhuma identidade é natural, que todos resultamos de construções culturais.
Dessa maneira, a "comunidade" LGBTTT passaria a falar não apenas de si e para si, mas interpelaria mais os heterossexuais, que vivem numa zona de conforto em relação às suas identidades sexuais e de gêneros (aliás, bem diversas entre si).
Para boa parte dos heterossexuais, apenas LGBTTTs têm uma sexualidade construída e problemática, e o que eles/as dizem não tem nada a ver com as suas vidas.
É a inversão dessa lógica que falta fazermos para chamar os heterossexuais para o debate, para que eles percebam que não são tão normais quanto dizem ser.
Ou seja: para combater a homofobia, precisamos denunciar o quanto a heterossexualidade não é uma entre as possíveis orientações sexuais que uma pessoa pode ter.
Ela é a única orientação que todos devem ter. E nós não temos possibilidade de escolha, pois a heterossexualidade é compulsória.
Desde o momento da identificação do sexo do feto, ainda na barriga da mãe, todas as normas sexuais e de gêneros passam a operar sobre o futuro bebê. Ao menor sinal de que a criança não segue as normas, os responsáveis por vigiar os padrões que construímos historicamente, em especial a partir do final do século 18, agem com violência verbal e/ou física.
A violência homofóbica sofrida por LGBTTTs é a prova de que a heterossexualidade não é algo normal e/ou natural. Se assim o fosse, todos seríamos heterossexuais. Mas, como a vida nos mostra, nem todos seguem as normas.
Para executar estratégias políticas que denunciem o quanto a heterossexualidade é compulsória, e de como ela produziu a heteronormatividade (que incide também sobre LGBTTTs que, mesmo não tendo práticas sexuais heterossexuais, se comportam como e aspiram o modelo de vida heterossexual), não podemos apostar apenas em marcos legais e institucionais.
Precisamos desenvolver, simultaneamente, estratégias que lidam mais diretamente com o campo da cultura, a exemplo de ações nas escolas, na mídia e nas artes.
O projeto Escola sem Homofobia, assim, não correria o risco de apenas interessar a professores/as e alunos/as LGBTTTs. Nesse processo, comunicadores e artistas também poderiam servir como excelentes sensibilizadores para que tenhamos uma sociedade que realmente respeita a diversidade. E a festeja como uma das grandes riquezas da humanidade.


LEANDRO COLLING, professor da Universidade Federal da Bahia, é presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura e membro do Conselho Nacional LGBT.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

aviso

Pessoas

ao contrário do que consta em nosso cronograma, nesta próxima segunda, dia 30 de maio, teremos aula em sala de aula.

discutiremos o texto Coelho, Teixeira. A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001. São Paulo: Iluminuras/Itaú Cultural, 2008, p.  17 a 48. 


também mandei o pdf no início do semestre pro mail da turma.

por favor, leiam com atenção e tragam suas contribuições e dúvidas.

gostaria que no início da aula alguém sintetizasse o que foi discutido no nosso encontro passado, no auditório. quem se habilita?

um abraço, bom final de semana
leandro

terça-feira, 24 de maio de 2011

dica

oi pessoas
hoje começa essa mostra de filmes em salvador
abrs

segunda-feira, 23 de maio de 2011

aviso urgente

Olá pessoas.
Hoje, segunda, dia 23 de maio, teremos novamente aula no auditório do PAF1, às 18h30min.
Dessa vez, eu farei uma palestra sobre uma discussão geral sobre diversidade e identidade e depois discutirei um pouco em como em geral "aceitamos" apenas uma certa diversidade e ainda excluímos outras, a exemplo da diversidade sexual.
A atividade foi sugerida pela professora Ângela, em função do meu texto publicado na Folha de S.Paulo no último dia 17 de maio e da reação a ele.
Quem não leu o texto e as reações, basta ir ao site www.abeh.org.br
abrs
leandro

domingo, 22 de maio de 2011

um teórico da contemporaneidade - na folha de hoje

ENTREVISTA 

Entre Marx, Freud e Sartre

Fredric Jameson contra a "cegueira do centro"



RESUMO 
O crítico cultural americano Fredric Jameson comenta o conceito de dialética espacial, desenvolvido por ele para pensar as relações entre centro e periferia; reflete sobre os efeitos da globalização na produção intelectual e comenta aspectos de sua formação, lastreada nas teorias de Marx, Freud e Sartre.


MARIA ELISA CEVASCO 

O MAIS IMPORTANTE problema trazido pela globalização para os intelectuais, segundo o crítico cultural americano Fredric Jameson, é "o surgimento de novas ideias políticas". "É uma tarefa fundamental que ainda precisa ser realizada. É muito estimulante saber que existem novos problemas para serem resolvidos, novas ideias para serem concebidas", afirmou o crítico em entrevista à professora da USP Maria Elisa Cevasco, por telefone, traduzida por Paula Carvalho, colaboradora da Folha.
Teórico da pós-modernidade e um dos mais influentes pensadores marxistas, o autor de "A Virada Cultural - Reflexões sobre o Pós-Moderno" [Civilização Brasileira, 318 págs., R$ 36] vem ao Brasil abrir a série de oito conferências da edição 2011 do ciclo Fronteiras do Pensamento. Amanhã, ele fará a conferência de abertura do evento, em Porto Alegre; no dia 25, falará em São Paulo, na Sala São Paulo. Os passaportes que dão acesso ao ciclo podem ser comprados no site fronteirasdopensamento.com.br.

 

Maria Elisa Cevasco - Em "Valences of Dialectic" (2009), o sr. desenvolve a ideia de dialética espacial, a fim de criar uma descrição mais adequada à globalização. Quais são as especificidades de pensar o sistema mundial do centro e da periferia?
Fredric Jameson - Precisamos desesperadamente, na política, de um contrapeso ao poder americano. Antes, os países socialistas faziam esse contrapeso. A esperança é que da aliança de Brasil, China, Índia etc., os poderes do Terceiro Mundo, -se é que ainda podemos chamá-los assim-, apareça uma nova força contrária.
As revoltas islâmicas também podem contrabalançar a centralidade americana. Não digo essas novas revoluções, mas o movimento jihadista era, até certo ponto, antiamericano, mas não era anticapitalista. A questão é onde, no mundo, esse movimento pode tomar um rumo não capitalista. Isso mudaria a forma como pensamos o sistema mundial?
Mudaria um pouco, sim. O que permitiria tornar outras coisas possíveis. O peso do dinheiro americano é tão grande que é difícil ver como outros modos de vida podem se desenvolver e não serem influenciados pelo americano.
Acredito que as políticas alternativas que estamos procurando não são nem socialistas, nem capitalistas, mas gaullistas, no sentido de [Charles] de Gaulle [presidente da França, 1959-69]. Ele fez com que a França se tornasse independente dos poderes americano e soviético.
A China pode ser independente dos EUA, mas recebeu entusiasticamente o modo de desenvolvimento americano. O Brasil era mais distante dos EUA em relação aos países latino-americanos, por isso tem uma tradição cultural e política diferente bastante promissora.
Para o Primeiro Mundo capitalista, é muito importante pensar num espaço que está fora de nós. Um país como o Brasil nos permite pensar um tipo diferente de desenvolvimento, um espaço onde é possível imaginar a existência de coisas inconcebíveis dentro desse sistema.
No seu prefácio a "Jameson on Jameson" (2007), o sr. afirma que a nova globalização inaugura um conjunto estimulante de novas atividades intelectuais, levando a uma reinvenção da vocação dos intelectuais. Como isso se dá?
A passagem da globalização da era dos imperialismos para a realidade global contemporânea precisa ser transcodificada, a fim de que as linguagens e os problemas do passado sejam traduzidos para a atualidade -é uma eterna reinterpretação dos conceitos do passado. Hoje, temos novas formas e experiências, novas temporalidades e manifestações artísticas, que ainda precisam ser descritas. O mais importante, no entanto, é o surgimento de novas ideias políticas. É uma tarefa fundamental que ainda precisa ser realizada. É muito estimulante saber que existem novos problemas para serem resolvidos, novas ideias para serem concebidas.
O artigo "Metacommentary", de 1971, inaugura uma série de "invenções categóricas" que incluem o inconsciente político, a transcodificação e o mapeamento cognitivo. Essas categorias estão a serviço de quais necessidades?
A ideia de inconsciente político está ligada à interpretação do texto, o que está por trás dele, e, no final das contas, à própria ideologia e à natureza da ideologia como uma forma de inconsciente. Tentei explorar, e até desvelar, um conceito mais novo e complexo de ideologia que o tradicional. Não chamaria de freudo-marxismo, mas seria uma combinação de Marx e Freud. Assim como para Freud há um inconsciente, que se volta para experiências da infância etc., há também um inconsciente marxiano, que é a fonte da ideologia.
E Sartre também foi importante para mim nessa questão, já que ele também estava muito interessado na formação dos princípios ideológicos na criança, para além do tipo freudiano. O inconsciente político cobre essa área como um problema, não como um conceito ou uma solução.
O problema freudiano é saber onde nos situamos em relação a outros indivíduos, e como eles nos veem e como nós os vemos, enquanto que o problema marxiano é saber onde nos posicionamos em termos nacionais, e como isso se relaciona com o posicionamento em termos nacionais de outras pessoas, como elas nos veem etc. É um nível coletivo cuja importância não é reconhecida da mesma maneira que o inconsciente individual freudiano, por exemplo.
Não só devemos saber onde nos posicionamos individualmente, quem somos, qual é a nossa identidade, mas também temos de refletir sobre a nossa posição no sistema mundial e como isso afeta as nossas identidades coletivas. Acho que está subentendido que, para certas pessoas que vivem em determinadas partes do mundo, é mais fácil mapear a própria posição em relação ao resto da humanidade do que em outros lugares.
Por exemplo, temos um problema especial nos Estados Unidos. Não é só por sermos um país de grandes dimensões, como Rússia e China, que nunca pensamos no mundo lá fora; há também uma certa cegueira do centro, que dificulta a compreensão dos contextos de outros países e do significado de atos culturais e políticos.
Já países que sofrem o peso de forças e centros vindos do fora (como o Brasil) conseguem ter uma visão mais clara do mundo lá fora, e da posição que ocupam nesse mundo em relação a esses centros. Portanto, a margem tem uma vantagem epistemológica sobre o centro e, talvez, os seus mapeamentos cognitivos sejam mais reveladores, ricos e interessantes dos que aqueles disponíveis nos centros de poder.
Que formas de arte incorporam as contradições sociais da atualidade? Isso muda de acordo com o momento histórico. Em certos momentos históricos, uma forma de arte -como a pintura- concentra todas as outras formas... Como a influência do romance no século 19?
Sim, mas, nas artes literárias, também a poesia. Na pós-modernidade, seriam formas visuais, como a fotografia. Há sistemas de belas-artes que passam por transformações constantes, em que um aspecto dominante se torna, em seguida, subordinado. Que formas de arte chamam mais a sua atenção hoje?
As artes literárias tornaram-se mais subordinadas. A gastronomia se tornou uma grande arte. Para mim, a pintura é uma arte bastante reveladora. Mas a meu ver, todas as artes estão passando por uma crise. Talvez a própria escrita da teoria seja essa arte dominante. Gostaria que comentasse sobre a sua formação e suas influências intelectuais.
Não sei se a dialética é o eixo central da minha obra. Embora possa discorrer sobre a minha formação intelectual, não gosto muito de autobiografias intelectuais. Mas posso dizer que a minha formação filosófica é sartriana, não só em termos existencialistas, mas também por um forte hegelianismo, e, numa fase posterior, uma maior ênfase no marxismo. Ou seja, a tradição francesa.
É importante ressaltar que, por vários acasos na minha vida, fiquei fluente em francês e alemão e, por isso, tive acesso a textos estruturalistas, dialéticos e psicanalíticos. Talvez seja essa combinação que forneça ao meu trabalho sua distinção identitária. Ainda me surpreendo com o quanto ainda sou sartriano. Mas, claro, que tive outras influências.

sábado, 21 de maio de 2011

aviso urgente

Olá pessoas.
Na próxima segunda, teremos novamente aula no auditório do PAF1.
Dessa vez, eu farei uma palestra sobre uma discussão geral sobre diversidade e identidade e depois discutirei um pouco em como em geral "aceitamos" apenas uma certa diversidade e ainda excluímos outras, a exemplo da diversidade sexual.
A atividade foi sugerida pela professora Ângela, em função do meu texto publicado na Folha de S.Paulo no último dia 17 de maio e da reação a ele.
Quem não leu o texto e as reações, basta ir ao site www.abeh.org.br
abrs
leandro

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Memórias de Cristina

Olá pessoas
Pedi que Cristina compartilhasse parte de suas memórias com a turma. Ela topou e enviou o texto abaixo. Espero que gostem.
abrs, Leandro



Dia 25 de abril de 2011.

Mesa redonda e debate de filme no auditório do PAF-I, com a participação de professores de Estudos da Contemporaneidade e alunos dos BIS.


Apresentação do filme “Utopia e Barbárie”, de Silvio Tendler. A continuação do estabelecimento de novas descontinuidades dentro do componente “Estudos da Contemporaneidade”. O estudo das características da Contemporaneidade como plataforma para o “Estudo das Culturas”. O contexto em que cada indivíduo situa a História e a sua história. Conceito e apropriação.
O filme aborda 50 anos de História em 120 minutos. Faz uma viagem das bombas atômicas às micro-políticas atuais. Apresenta imagens das barbáries da Segunda Guerra Mundial, das atrocidades da Guerra do Vietnã, de Che Guevara e da Revolução Cubana, das forças de repressão da Ditadura Militar brasileira e seu envolvimento com as táticas de tortura dos Estados Unidos, a Ditadura que elegeu Pinochet no Chile, o consumo, a luta de classes no Brasil e o sindicalismo, a Operação Condor, a Perestróica, o Apartheid, o Hamas, o conflito entre judeus e palestinos, e das utopias com a queda do muro de Berlim, a Primavera de Praga, a luta anticolonialista da Argélia, a Nova Constituição Brasileira, o movimento das Diretas Já, a ascensão do operário à Presidência da república Federativa do Brasil.
O sonho acabou. Segundo Adorno, a barbárie “é algo muito simples, ou seja, que, estando a civilização no mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontram atrasadas de um modo peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização — e não apenas por não terem em sua arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao conceito de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por uma agressividade primitiva, um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de destruição, que contribui para aumentar ainda mais o perigo de que toda esta civilização venha a explodir, aliás, uma tendência imanente que a caracteriza”. Como a utopia, é lugar nenhum, ela é também o espaço para o sonho, e como sonho, ela nunca acabará. Hoje, os “espaços de exercício da utopia são a internet, os fóruns mundiais, as mídias alternativas. O tempo-espaço das intervenções diárias. Parafraseando Kim Bartley e Donnacha O’Briain, “A revolução não será televisionada”.
A cena que mais me marcou no filme foi a da morte do poeta Pablo Neruda. É verdade, a História é aferida de forma linear – datas, acontecimentos, atores envolvidos. Mas, a estrutura fragmentada do filme, fez emergir os fragmentos da minha própria história. Eu me lembrei de ver pela televisão os “guardas” e sua cavalaria sobre os militantes da Avenida Rio Branco, e do silêncio que fora recomendado em casa; do pai de um amigo de família pacifista que comprou uma arma para buscar o filho detido nos porões do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, e que teve a “sorte” de tê-lo de volta jogado na porta de casa, apenas de cabelo cortado, sem as unhas das mãos e dos pés, com hematomas generalizados, mas que sobrevivera porque a mãe era uma pneumologista que salvara a filha de um oficial de alta patente. A lembrança de “todos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a Seleção”, muito comemorada em casa, era uma perspectiva dolorosa frente à idéia de qual jogo eu estaria participando agora sem me dar conta? Naquela época, estudante do antigo ginásio, a nossa maior rebeldia fora colocar chiclete na cadeira da nova professora de “Moral e Cívica”, que substituíra sem nenhuma explicação a professora de História. Já com 23 anos, participei de um Workshop do Augusto Boal onde ele reunira mais de duzentas pessoas que experimentavam o seu “Teatro do Oprimido”. Nós nos experimentávamos. Eu caminhava com um chalé palestino envolto no pescoço e uma camiseta com a foto do Yasser Arafat, quando um sujeito judeu, na Praia de Copacabana, bloqueou ameaçadoramente a minha passagem, e me disse que eu não entendia nada sobre aquilo. Lá pelas tantas, uma das reuniões de fundação do PT aconteceu na casa-república que eu morava com outros amigos. Benedita da Silva estava lá com outros “utopistas”. Mais tarde, eu não encontraria nenhum traço de semelhança entre aquela senhora sentada ao meu lado na sala e a governadora Benedita Sousa da Silva Sampaio, do RJ. Obviamente éramos petistas, éramos pelos trabalhadores. Líamos João Cabral de Mello Neto, o Capital, Germinal, assistíamos aos filmes de Fassbinder, Jean Genet, Ingmar de Bergman, e relatos de presos políticos. Quantos comícios na Cinelândia, a passeata pelas “Diretas Já”. Fazer “Morangos Mofados”, no Teatro Cacilda Becker, para Caio Fernando Abreu na platéia, foi emocionante. Não poder evitar a morte de Ana Cristina César e nem seu (também nosso) suicídio, por se sentir emparedada, foi doloroso. Assistir ao filme foi trazer de volta um recorte da minha vida que estava totalmente submerso, inteiramente esquecido. A derrota de Lula para Collor, e a foto dele de corpo inteiro estampada na capa do Jornal do Brasil era a mostra da face reacionária e burguesa do Brasil, e, sobretudo, do RJ, que lhe dera a vitória. Collor espoliou a Nação e fez ruir o sonho da minha avó de comprar sua casa. Fui para Alemanha. Lá chegando fiz três experiências significativas: a da política das fronteiras, a do racismo e a da xenofobia. Descobri que os alemães dividiam o mundo entre os alemães, os americanos e os demais. Na chegada do meu vôo, fui a única passageira detida no aeroporto de Munique – eles me perguntaram se eu era árabe – isso em 1992. Seis policiais me cercaram, analisaram o dinheiro que eu carregava, pediram o endereço aonde eu me dirigia para checar a informação. Lá pelas tantas percebi que os guardas assistiam TV na sala ao lado, e não vinha ninguém para me liberar. Então, eu me liberei. Saí e ninguém disse nada. O pequeno interrogatório havia terminado. Não sem marcas. Com Collor, a barbárie da ditadura aparecia mais perversa. Como na foto da página inteira. Para mim, “aquele sonho” havia acabado, e não havia nenhum outro para sonhar. E, aos poucos, de turista eu fui me transformando em estrangeira. Os efeitos ainda estão por aqui, por aí. Mas, “esse mundo tem que reparar-se”. Aí vem a professora Ângela Franco e fala daquele vazio a partir do fim das duas coisas. Pois é. Então alguém sabia traduzir aquela sensação de estranhamento sentida nos últimos dez anos. Vem você e diz que não podemos seguir a lógica da simplificação, “aquilo tudo” foi real. Pois é. Se ao menos eu lembrasse os nomes de todas aquelas pessoas - pela utopia ou pela barbárie – a mulher que se pergunta: “Qual o sentido de eu ter escapado (da bomba atômica)?”, A. Gitai, Amira Haas, Fernando Solanas, Francesco Rossi, Augusto Boal, general Giap, Ho Chi Minh, Mao Tsé Tung, Takao Amano, Eduardo Galeano, Juan Bosch, Camilo torres, Gianni Váttomo, René Scherer, Franklin Martins, Ottoni Fernandes Jr., Mario Alves, Ferreira Gullar, Marlene França, Alvaro Caldas, Rose Nogueira, Alvares Azevedo, Nsaynd Barret, Soledad Barret, Gilo Potencorvo, Bruno Muel, Patrice Lumumba, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Amir Hadad, Jorge Amado, Francisco Julião, Cacá Diegues, Coronel Camaño, Martin Luther King, Muhamed ali, Donal Cox, Angela Davis, Mauro Santayana, Jean Marc salmon, Dilma roussef, Paulo Leminski, Carlos Chagas, Sergio Fleury, Pedro Aleixo, Sergio Santeiro, Luis Carlos Maciel, Zé Celso Martinez, Joaquim Pedro de Andrade, Shizuo Ozawa, Daniel Vigletti, José Maria de Araújo, Garrastazu Médice, João Goulart, Pinochet, Allende, Fidel Castro, Ana rosa Kusinski, Maria do Carmo, Patricia Bruno, Leonel Brizolla, Vladimir Palmeira, Lula, Walter Rauff, Ronald Reagan, Margareth Tatcher, Mikail Gorbachev, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Alberto Dines, Evandro Teixeira, Hugo Arévallo, Xuan Phong, Gregório Bezerra, Ricardo Caratini, Carlos Prestes, Macarena Gellmann, Roger Rodrigues, Samuel Blaxen, Jair Khriske, Caio Fernando Abreu, Lyda Monteiro da Silva, Paulo Henrique Amorin, Joelmir Betting, Jacob gorender, Pol Pot, Denis Arcand, Vú Khoan, Yael Larer, Uri Avnery, Mohamed Alahad, Muner Shaban, Zacharia Zubeidi, Walter Benjamin, Leandro Konder, Apolônio de Carvalho... Sei que faltaram muitos.
Eu não tinha o que dizer, ou discutir após a exibição desse filme. E não sentia mais a menor vontade de estar na sala. A explanação do professor Umbelino, que parecia mais identificado com a proposta de cinema do Glauber, e que de certa forma, como cineasta, desqualificava o trabalho do Tendler, somada às questões que se seguiram, eram para mim, antítese demais naquela hora. Fiquei com vontade de rever o filme. 

OBRIGADA ÂNGELA, POR TRADUZIR O VAZIO.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mail de uma aluna com minha resposta

Pessoas, vejam que ótimo esse mail dessa aluna. Penso que isso deve ser reflexo do interesse e das reflexões que estamos oferecendo aos alunos, não só em nosso componente. Vejam abaixo a minha resposta:

Prezado Leandro, bom dia.

Gostaria de formar uma boa base teórica sobre a contemporaneidade. Mas percebo todas as lacunas que dificultam em fazer um panorama completo, pois vejo que transitamos entre a História, a Sociologia, a Filosofia e a Pedagogia.

Seria possível você me indicar uma bibliografia - do basicão ao complexo, onde eu pudesse dirimir essas falhas?

Te agradeço.

Um abraço,
Cristina Fernandes


Minha resposta:

Cristina, muito obrigado por esse mail. Ele é reconfortante, gratificante, pois demonstra o interesse dos alunos do IHAC.

Essa lista que vc pede sempre será incompleta, pq temos uma imensa produção de pesquisadores que tentaram e tentam dar "uma boa base teórica sobre a contemporaneidade". Eu vou listar abaixo, com breves comentários, algumas obras que foram fundamentais no meu processo de estudo, desde o mestrado, em especial, para tentar entender esse mundo contemporâneo.

A condição pós-moderna, de David Harvey
A condição pós-moderna, Jean-François Lyotard

Esses dois livros tentam conceituar a pós-modernidade, tentam diferenciar ela das demais idades do mundo. Eu penso que são duas obras básicas bem interessantes.

Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman

Já dialoga com os autores anteriores, tenta aprimorar a análise, através da metáfora do líquido.

Modernidade e identidade, Anthony Giddens
As consequencias da modernidade, Anthony Giddens

Duas obras que oferecem um contraponto a Harvey e Lyotard. Autor tenta demonstrar que estamos numa continuidade da modernidade e tenta mapear como isso reflete em vários campos das nossas vidas.

Pós-Modernismo - A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio, Fredric Jameson
Idem

A sociedade do espetáculo, Guy Debord
Uma obra mais antiga, de um autor visionário, que defende a tese de que somos dominados pela lógica do espetáculo. Gosto muito desse livro. Depois Baudrillard (outro autor importante) vai falar quase a mesma coisa, sem citar Debord.

O império do efêmero, Gilles Lipovetsky
Outro livro importante, analisa a sociedade através da lógica da moda. Ele andou atualizando as suas ideias com o livro Os tempos hipermodernos.

Vigiar e punir, Michel Foucault
Para entender o poder no mundo contemporâneo, um livro essencial.

A sociedade em rede, Manuel Castells
Cibercultura, Pierre Levy
Dois livros importantes para entender os reflexos das novas tecnologias na sociedade

Mal-estar na civilização, Freud
Um livro do início do século passado, mas que considero importante para entender o mundo de hoje.


Brasileiros
Mal-estar na atualidade, Joel Birman
Uma atualização, a la brasileira, da obra do Freud citada acima

Teorias da globalização, Octavio Ianni
Enigmas da modernidade-mundo, Octavio Ianni
Por uma outra globalização, Milton Santos
Com influência marxista, dois críticos de como esses processos pensados pelos autores acima interferiu e interfere no Brasil

Como eu disse, a lista não é completa, mas creio que quem ler/estudar essas obras vai entender um pouquinho mais desse nosso mundão.

abrs, leandro