sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Cinema e transgressão

Pessoas, essa matéria foi publicada no A Tarde de hoje. Penso que, no cinema, Lars é um bom exemplo de transgressão. Sugiro que todos vejam esse filme. Recomendo também Dogville.

Precedido por polêmica, o filme do dinamarquês Lars Von Trier entra em cartaz em cinco salas

JOÃO CARLOS SAMPAIO

Quando Anticristo (Antichrist) foi exibido pela primeira vez, na mais recente edição do Festival de Cannes, em maio passado, as reações da imprensa especializada foram contundentes. Seu diretor, o cineasta dinamarquês Lars Von Trier, que se tornou célebre pelos temas e projetos polêmicos, novamente conseguiu abalar corações e mentes. Mais uma vez colheu elogios e vaias, nunca indiferença.

É fácil entender o motivo de manifestações tão exaltadas, já que a obra resolve centrar os seus cem minutos de duração num mergulho claustrofóbico em direção ao imponderável dos jogos mentais envolvendo seus personagens. Com pouquíssimas locações e dois únicos tipos em ação – o casal interpretado pelos atores Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe –, a trama tem aspirações asfixiantes, atormentadoras.

O ator norte-americano Willem Dafoe, de 54 anos, atua num dos papéis que mais exigiram o gesto mínimo, a menor manifestação de expressões e gestos. Coisa rara numa carreira tão arrebatada por tipos grandiloquentes, seja numa caricatura independente de David Lynch, como Coração Selvagem (1990), ou em produções para grandes plateias, como na série do Homem-Aranha, em que ele aparece encarnando o Duende Verde.

Charlotte Gainsbourg, que é filha de Serge Gainsbourge Jane Birkin (famosos vocais da canção Je T\'aime Moi Non Plus, do filme Emanuelle), é uma atriz e cantora nascida em Londres, mas radicada na França. Sua atuação como a personagem feminina de Anticristo rendeu o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, láurea que se soma ao reconhecimento que goza na França. Internacionalmente, é mais conhecida por atuar em filmes como Não Estou Lá (2007) e 21 Gramas (2003).

Tragédia

A trama de Anticristo se resume à observação em torno de uma tragédia que envolve o casal protagonista. Enquanto faziam amor, eles não perceberam que o filhinho deles desceu do berço e foi brincar na janela do apartamento, desafiando inocentemente a gravidade. A partir deste episódio, surge na tela a vida destroçada dos personagens, que passam por etapas que vão do sofrimento ao autoflagelo, separadas em capítulos.

Além do prólogo no apartamento, o filme passa por mais umas poucas ambientações, como um cemitério e um hospital. Depois, toda a ação se centra num bosque onde o casal mergulha rumo ao lado mais sombrio da alma.

O nome deles nunca é revelado, Von Trier se limita a mostrar os embates mentais, as crises e dilemas. Em suma, um laboratório sobre um homem e uma mulher em situação-limite. Lars Von Trier, 53 anos, pertence à casta de cineastas-autores que não temem a polêmica, muitas vezes criando fitas que fazem mais barulho do que propriamente contribuem para a evolução da linguagem. Ainda assim, não faltam grandes momentos na obra do realizador, que já em 1991 chamou a atenção com as inovações do drama Europa.

Trilogia

O filme fazia parte da trilogia de filmes iniciados com a letra E, uma das muitas brincadeiras do diretor com as questões de forma. Independentemente de jogos com letras, Europa é notável por vinhetas, que utilizam imagens projetadas sobre os atores. Em 1995, Von Trier se uniu a outros diretores da Europa nórdica e criou o manifesto Dogma 95, que ganhou grande publicidade em todo o mundo com sua rígida tábua de procedimentos que os cineastas deveriam tomar para fazer um cinema barato e fiel ao real. Na prática, apenas o filme Os Idiotas (1998) segue as normas do documento, mas ainda assim o diretor se permite burlar algumas regras.

O Dogma 95 foi muito criticado por suas esquisitas recomendações, como a de não usar trilha sonora. Dois anos depois de Os Idiotas, Lars Von Trier esqueceu completamente o discurso do manifesto e realizou o melodramático musical Dançando no Escuro, estrelado pela cantora Björk e pela diva Catherine Deneuve. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2000.

O cineasta criou mais jogos com a forma ao lançar a proposta da trilogia iniciada, em 2003, com Dogville. O filme trouxe personagens atuando num palco de teatro, quase sem objetos de cena, e criando uma narrativa desconcertante.

Manderlay (2005) foi o segundo filme do projeto a ser lançado e nos próximos meses o diretor deve fechar a tríade com Washington.

Dimension Em paralelo toca o inusitado projeto de Dimension, um filme que será composto de imagens coletadas até 2024, seguindo a prática de gravar três minutos por ano. Por ideias assim, Lars Von Trier é sempre questionado, ao tempo em que consegue se manter em evidência.

Um comentário:

  1. Este filme é realmente uma experiência marcante. Tal como uma peça de teatro é dividido em Prólogo, Capítulo 1 que se intitula por LUTO,este marcado pela depressão e ansiedade da mãe, permeada por sua auto-destrutividade e violenta compulsão sexual,Capítulo 2 intitulado DOR - o caos reina,este marcado pelo medo o qual induz a um profundo autoqustionamento entre os membros do casal num primeiro momento,alucinações auditivas e percepção angustiosa de ambos da Floresta do Éden que os cerca, tudo isso matizado pela agressividade e possesssividade da "mãe",Capítulo 3 OS TRÊS MENDIGOS, a parte mais próxima do sobrenatural,e este, liga-se à relação no plano psicológico entre o casal. Aqui o desespero se evidencia mais na violência e atinge o seu clímax,é decretado pelos TRÊS MENDIGOS - O LOBO, O CORVO E O VEADO silvestre - determinam que um deles deve morrer,encaminhando-se para a conclusão... esta é o Epílogo,que marca a partida de um deles da Floresta do Éden,que neste momento é significada de outra forma, pelo ingresso silencioso e pacífico de uma misteriosa multidão.A interpretação dos atores é realmente muito impressionante e,este é outro fator,além da diégese que marca o filme com o forte selo teatral.É um turbilhão emocional... não é um filme propriamente bom,mas sim uma experiência que vale a pena(em que pese a ambígüidade desta frase). Assisti a este filme no ESPAÇO UNIBANCO - CINE GLAUBER ROCHA, na quinta-feira passada. O cinema é um ambiente muito gostoso e interessante,bem como "em conta" pois seus preços variam entre R$8,00(a inteira) e R$4,00(a meia) - ao longo da semana os preços variam entre R$10,00(a inteira) e R$5,00(a meia) e em feriados e fins de semana eles majoram um pouco a R$16,00(a inteira) e R$8,00 (a meia) - ,ou seja,é ideal para nós estudantes...há ainda o fator localização, por estar este ESPAÇO situado na Praça Castro Alves...bem defronte ao "poeta",contando com um terraço com vista panorâmica para a deslumbrante Baía de Todos os Santos, a reforma pelo UNIBANCO do antiqüíssimo Cine Glauber Rocha é um caso claro em que uma intervenção arquitetônica em um "espaço",pode revitalizá-lo e influir positivamente sobre todo o território em que está inserido,como seu entorno.
    E por tudo isto, vale muito a pena!
    Até mais, Eliseu!

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