domingo, 30 de maio de 2010

Na Folha de S.Paulo de hoje

Boom de crédito aumenta o valor de imóvel até em beira de estrada
Preço do m² chega a R$ 5.000 em Salvador; renda no Nordeste cresce 7,5% ao ano, ante 5,3% no país

Especialista afirma que falta de infraestrutura longe dos centros, onde há terrenos disponíveis, puxa preços para cima 

DO ENVIADO AO NORDESTE
O boom de negócios e do crédito imobiliário no Nordeste está levando a um rápido aumento nos preços de terrenos e imóveis na região, além de uma saturação da infraestrutura disponível.
A maior construtora do interior da Bahia, a R.Carvalho, sediada em Feira de Santana (107 km de Salvador), cresce 100% ao ano e levanta hoje 7.091 unidades, 75% delas voltadas à baixa renda.
No Nordeste, a renda per capita cresce hoje a um ritmo de quase 7,5% ao ano, ante 5,3% na média do país. Entre os mais pobres na região, o avanço é de 15%.
De acordo com José Luiz Souza, diretor da R.Carvalho, enquanto o metro quadrado de imóveis de baixo padrão chega a R$ 1.400, o valor ultrapassa R$ 3.400 para os de melhor qualidade.
Caso de um imóvel comprado em condomínio fechado à beira da BR-116, em Feira de Santana, por Tatiana Coutinho. Ela está pagando financiados R$ 152 mil por uma casa de 46 m² no local.
Quando a Folha visitou Tatiana, ela tomava informações via conferência em vídeo por computador para investir em um novo edifício erguido pela OAS em Salvador, o Manhattan. Preço, também financiado: entre R$ 4.500 e R$ 5.000 o m².
Questionada se já ouvira falar na chamada "bolha imobiliária" que estourou nos EUA em 2007, após uma farra de crédito direcionada ao setor no país, Tatiana respondeu negativamente.
Segundo Tatiana, ela e o marido, que é funcionário público, querem investir em imóveis, pois veem boas chances de valorização.

EXPLOSÃO
Entre 2004 e 2009, o total do crédito imobiliário no país disponível via poupança e FGTS para a compra de imóveis saltou de R$ 6,3 bilhões para R$ 48 bilhões (662%)
Para Ana Maria Castelo, da FGV Projetos (que dá consultoria ao SindusCon-SP), o forte aumento nos preços no setor imobiliário decorre da grande demanda por moradia reprimida por décadas.
"Ao contrário do que se deu nos EUA, onde as pessoas compravam imóveis a crédito para investir ou refinanciavam moradias para consumir, aqui o objetivo principal é morar", afirma.
Mesmo assim, ela reconhece que os preços "sobem muito rapidamente".
"O problema no Brasil é a infraestrutura. Para aumentar a oferta [e conter preços], as periferias das cidades, onde ainda há terrenos disponíveis, deveriam contar com melhor acesso e mais transporte público", diz.
Ao sul de Feira de Santana, em trecho da BR-116 que está sendo duplicado, por exemplo, há uma série de novos empreendimentos imobiliários em cidadezinhas.
Em Milagres (241 km de Salvador), mais de três centenas de casas foram erguidas nos últimos dois anos.
O resultado é que a BR-116 vem ficando saturada. Mesmo sua duplicação é vista com ceticismo, já que a estrada é dominada pelo transporte de cargas, que o rápido desenvolvimento da região só faz aumentar.
(FERNANDO CANZIAN)

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