segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Para discussão do módulo 3

Músico declara amor ao avesso pela tradição

MARCUS PRETO

DA REPORTAGEM LOCAL

Os insetos são o de menos. O que Lucas Santtana discute neste seu quarto e melhor álbum é a desgastada relação entre a canção feita no Brasil e seu instrumento essencial, o violão.

Tudo já foi inventado nas cordas de náilon de Dorival Caymmi, João Gilberto, Baden Powell, Jorge Ben, Gilberto Gil. Tudo já foi replicado -e diluído- à exaustão pelos que vieram depois deles. E agora, esgotaram-se as possibilidades?

Santtana comenta o enfraquecimento da "tradição violonística da canção brasileira" sampleando justamente ícones dela. É quase o que Caetano fez com a bossa nova quando arquitetou o projeto tropicalista.

No fim dos anos 60, a invenção transgressora de João Gilberto já estava diluída e, em seu nome, muito nhenhenhém era produzido. Para que as ideias iniciais de João não se perdessem nisso, Caetano se valeria de elementos dela própria para implodi-la. João, ele sabia, sobreviveria ao estrondo.

O violão também sobreviverá, sempre, como espinha dorsal da canção brasileira -e Lucas grita isso em seu disco. Mas o grito é dado para dentro, escondendo os nomes dos gênios "orgânicos" do instrumento -Caymmi, João, Baden etc.- por trás da liquidificação promovida pelos computadores.

É uma declaração de amor às avessas. Não à tradição, simplesmente -mas ao caráter subversivo que ela carregava em seus tempos iniciais, antes de se chamar "tradição". E uma declaração desse quilate só funcionaria dessa maneira, com boas doses de subversão.

Na FSP de hoje

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